Wednesday, January 31, 2007

A Mulher Escarlate - Parte I - “Cavalgando em Prazer Blasfemo sobre a Besta”

Ainda hoje encontramos mitos da mulher escarlate na cultura ocidenal, mesmo em terras mais recônditas este nome está associado a um mito a prostituição subrepticia ou a mulheres que transgridem as regras morais da sexualidade estabelecidas, mas o mito já é o antigo conceito denegrido por motivos históricos, politicos e sociais já que muitas vezes implica a venda do corpo e a degradação. No entanto, por vezes, este nome remonta a um sentimento mitificado da mulher cuja luxúria encanta e deslumbra, é velada e apesar de temida é permitida pelas próprias comunidades que admitem o papel social e mítico que elas representam. A palavra prostituta significa querida, cara, a bem amada, ela não implicava originalmente nenhuma censura moral nem era associada a mulher ordinária, fácil e vendida. Estas mulheres podem ser a prostituta da terra por opção e luxuria ou mesmo a mulher que nunca se casou e vai entrando subrepticia e sexualmente na vida de todos os homems dessa comunidade. No entanto penso que isto são simplesmente reminescências de um papel bem mais antigo, mais complexo e mais importante representado por mulher da Antiguidade.

A base das Tradições Ocultas ocidentais são os mistérios egípcios e caludeus alguns dos seus elementos fundamentais são Nuit, Hadit, Raa Hoor Khuit, Abrahadabra, Therion (a Besta) e Babalon (a mulher escarlate). Nuit,o Arquétipo primordial da noite infinita do universo e do céu noturno é considerada o dragão das sete estrelas, tornou-se eventualmente na mãe do mal primordial, mãe feiticeira, deusa da noite e dos ritos negros e infernais. Nuit terrena é Ísis, a Mulher Escarlate Crowley disse uma vez que “qualquer mulher que tansmita a palavra solar ou a partícula Hadit” pode tornar-se numa mulher escarlate. No Livro da Lei Hórus é filho de Nuit, que é concentrado no senhor da baqueta de duplo poder (Hru-Machis) combina Set e Hórus no deus unificado que possuiu atributos gemeos: Hoor-paar-kraat e Raa-hoor-khuit. Estes aspectos da adoração estão a retornar na sua forma pré-monogâmica da sociedade quando a Besta e a Prostituta se unem “em prazer blasfemo”. O útero da Mulher Escarlate é a cidade da Besta, Babel, Babylon ou Babalon, que remonta ao significado de Babalon, “O portal do sol”, sendo este o seu útero na união sagrada com a Besta, o poder solar fálico.

Babalon, a mulher escarlate, é o Avatar terreno, sacerdotisa das “estrelas”, ou seja dos dos kalas que origina, que são as emanações sagradas da mulher magicamente treinada. De igual modo a Besta, por complementaridade, é o veículo da corrente solar, da força masculina simbolizada pelo falo. Babalon, a Mulher Escarlate, é a estrela de sangue, o rubi estrelar típico do Norte para onde Iezides se voltavam quando invocavam o seu “diabo”. Babalon de que falamos difere da Babalon referenciada na Bíblia pois esta é ja uma visão distorcida e asssociada á prostituição, a Tradição foi melhor conservada nos Tantras da India e Tibete em cerimonias onde se utilizam os kalas, que são os fluidos que exudam de uma sacerdotisa devidamnete treinada, só uma Mulher Escarlate (Fórmula equivalente ás Suvasinis que sao consideradas mulheres com um cheiro doce e perfumado) produz kalas que podem ser usados com propósitos medicinais ou mágicos, em Thelema a Besta devora os Kalas e trasforma-os em ojas preciosos. A rosa de cinco pétalas é tipica da mulher Babalon pois o seu seu flúido ou flor é os símbolo da sua função mágica, a rosa de cinco pétalas unida com o Santo Hexagrama da Besta forma a estrela secreta da magia. A fórmula da fénix é a estrela de Hórus ou a de Babalon com sete raios do planeta Saturno (Set) que rege a casa de Aquário. Segundo Crowley “a fórmula de Babalon é a constante copulação ou Samadhi sobre tudo”.Babalon é “a chama da vida: o poder da escuridão; ela destrói com um piscar; ela pode tomar a alma. Ela se alimenta da morte dos homens”.

A visão de Crowley baseou-se na leitura da Bíblia quando era criança e leu no Livro da Revelação de São João capítulo 17:3-6 :

“So he carried me away in the spirit into the wilderness: and I saw a woman sit upon a scarlet coloured beast, full of names of blasphemy, having seven heads and ten horns. And the woman was arrayed in purple and scarlet colour, and decked with gold and precious stones and pearls, having a golden cup in her hand full of abominations and filthiness of her fornication: And upon her forehead was a name written, MYSTERY, BABYLON THE GREAT, THE MOTHER OF HARLOTS AND ABOMINATIONS OF THE EARTH. And I saw the woman drunken with the blood of the saints, and with the blood of the martyrs of Jesus: and when I saw her, I wondered with great admiration.”

E a versão de Crowley foi ilustrada no tarôt de Toth e descrito da seguinte forma:

“She rides astride the Beast; in her left hand she holds the reins, representing the passion which unites them. In her right she holds aloft the cup, the Holy Grail aflame with love and death. In this cup are mingled the elements of the sacrament of the Aeon” (Crowley 1981, p. 94).

No culto primordial de Shaitan no antigo egipto, como no de Thelema, o papel da mãe solteira ou prostituta é exaltado sobre todas as outras expressões do principio femenino e denominavam-se portanto Prostitutas Sagradas. Tinham um estatuto elevado na sociedade egípcia pois eram associadas ao poder da Deusa, algumas usavam vestidos de rede de azul fainça, pintavam os lábios de vermelho, tatuavam os seios, as ancas e por vezes andavam totalmente nuas, provavelmente fariam parte de uma iniciação à idade adulta não podendo o rapaz casar sem passar pela experiência transfiguratória com a Mulher Escarlate Sagrada no entanto há que salientar que não eram pagas, elas representavam um papel sagrado na sociedade de então.

O papel da Mulher Escarlate sofreu resultado de uma mudança social primitiva pois o culto da Grande Mãe foi degradado e tornou-se na Grande Prostituta, ela recebeu todos e não podia saber quem era o pai de seus filhos eles eram orfãos e bastardos. Ao mesmo tempo que esta alteração sucedeu contagem luni-solar do tempo foi substituída pela contagem estelar, a paternidade substituiu a maternidade na mitologia, religião e sociedade estabelecendo-se a regente falocaracia até aos dias de hoje. A Mulher Escarlate, a mulher do sumo da lua, é soberana na magia, torna-se oracular no eclipse lunar onde um portal é aberto e a energia solar-fálica do mago inunda a escuridão com luz do sexo que Nagloska falou.Crowley descreveu “ a Mulher Escarlate , cavalgando sobre a Besta, esta indo, bebendo o sange da vida dos santos; adúltera; a senhora da mudança, da energia da vida: enquanto que a mulher modesta, maria inviolada, está trancada, estagnada; impotência e morte...”

Por outro lado a fórmula da prostituta esta ligada á lua da feitiçaria, á magia negra envolvendo entidades ctónicas e estéreis como Équidna, Lilith, Melusine, Lâmia, certos aspectos de Kali, Kundre, “e a natureza das fadas em geral”. O que aproxima bastante a imagem popular da prostituta como veículo de luxuria estéril e vampirica. O que é diferente da verdadeira, imagem da prostituta bem amada e querida, ela não pode formar um portal através do qual o mago é capaz de contactar fontes de real poder, o poder dela é limitado ao mundo do glamor, ilusão e mundos traiçoeiros do mundo astral que tangeiam as qliphotes, o mundo das sombras. Qliphotes é o plural de qliph que significa merettriz e o seu poder é diferente do da virgem cuja função é de Inspiração.


Qualquer mulher adequadamente treinada se torna oracular no sentido que se aplica á Mulher Escarlate, assim também qualquer homem adequadamente treinado e magicamente consagrado pode desempenhar o ofício da Besta. A Besta significa a tranmissão não individualizada da energia solar (Hadit) , criando assim almas ou estrelas no corpo de Nuit.

Das três fases principais da feminilidade, a virgem , mãe e prostituta, Crowley exalta a prostituta como modelo de mulher Thelémica, a virgem representa o silêncio dos irmãos negros resultando inércia estéril da exclusividade e restrição. O Pecado significa restrição, muitos clamam que não existe pecado, a questão está se permitimos incutirmo-nos culpa pelo pecado, será ele um dogma beatífico? Ou será um meio libertação dos nossos Eus? Ser um pecador consciente com prazer, caminhar sinuosamente entre os caminhos do pecado e da santidade, pode levar a uma iluminação misteriosa e surpreendente, os caminhos da Transgressão. No entanto aprender a transgredir, a pecar, é o caminho para Caminhar entre os Mundos, ora caminhar no mundo quotidiano, ora transcender nos Caminhos da Arte, ter prazer em ambos especialmente por se ter ora o pé num, ora o pé noutro; dá-nos um gosto sublime, um prazer secreto e delicioso dessa vivência sagrada. Retomando o tema das facetas da feminilidade, a forma activa do silêncio ao contrário está tipificado pela acção e criatividade secreta operantes na escuridão, solidão, é a gestação. Crowley disse que “ a mulher é a Shakti, o Teh, a porta mágica (Daleth, a porta, Vénus), entre Tao e o mundo manifesto. O grande obstáculo é se esta porta estiver trancada. Portanto nossa Senhora deve ser simbolizada como uma prostituta, uma querida mulher que se dá a todos com a mesma devoção e paixão, dá-se por Amor á Humanidade. Fechar a porta é impedir a operação de mudança, ou seja, do Amor” como Naglowska disse “A Caminho do Conhecimento através do Amor”. Todo o livro dos mortos é um dispositivo para abrir veículos fechados e permitir a Osiris entrar e sair do Portal. Há no entanto um período definido a fim de permitir que a Mudança se desenrole sem ser perturbada onde a terra jaz incultivada já que o útero está fechado durante a gestação. “Assim a mulher modesta, a mãe, é para mim o símbolo da derrota e da morte: a Mulher Escarlate que cavalga a grande Besta selvagem, que drena o sangue dos santos em sua taça, que é adúltera, exigindo a mudança, vitória e vida”

Na união sexual trancendente, cada coito é Sagrado, ele efectua uma tranformação da consciência através da aniquilação da dualidade aparente, é também um acto iniciatório. Actos de amor sob vontade, realizados conscientemente para provocar determinadas consequências ocultas são transmutadores da consciência.

Deparamo-nos então com uma prática mágica transcendente que se repete em todo o mundo e todas as culturas, é inerente à Humanidade no entanto a sociedade ocidental há muito que condena estas práticas, mas hoje de novo se levanta sob os escombros dos credos primordiais e da herança dos nossos antepassados e mais uma vez nos lembramos dos antigos conhecimentos, nesta Era de Aquário revolvemos a terra que estava em pousio, e está fértil, caminhamos para uma conciência mais elevada nesta nova Era. O papel da mulher na sociedade deve deixar de ser temido ou repudiado, a Força do Sexo e da trasmutação é-nos inerente e há que sublimá-lo, através da união sacramental mágica potenciá-lo e activar as forças inerciais do nosso sangue e dos Arquétipos latentes no nosso cérebro. Abrir a Porta do sol, Abrir as Portas do conhecimento, alargar a conciência...Conquistar todos s dias um pouco mais o brilho de Lucifer concretizando os sacramentos dos antigos mistérios. As práticas mágicas de transmutação da conciência renascem novamente. Recuperamos novamente o verdadeiro papel e as verdadeiras caracteísticas e propriedades da Mulher Primitiva que como Ostin Osman Spare refere é a “Mulher Universal, que jaz infecunda no subconsciente da Humanidade” que foi abandonada e empobreceu o curso da Humanidade durante todo este tempo. A verdadeira Natureza da Mulher que jaz no seu subconsciênte eleva-se subrepticia e libidinosamente uma vez mais como a serpente na Árvore do Conhecimento caminhando sinuosamente através dos seus liquidos atávicos ao topo da árvore, os mistérios ctónicos femninos, de qual Pérsefone mítica, ascendem novamente ao conciente colectivo. A Mulher Universal renasce uma vez mais a partir das reminescências subliminares latentes no subconsciente, em todo o seu explendo libidinoso e mistérico, formando uma bipolaridade feminina e masculina equilibrada apesar de díspar, empurrando a Humanidade para a Evolução.

Babalon

2 comments:

dragao said...

Eu acho que apesar de estarmos na Era do Aquario( o q eu nao tenho bem a certeza), a imagem da mulher que tu fazes passar neste post e uma imagem completa e EXTREMAMENTE TRANSCENDENTE, o que eu nao sei se todos os seres humanos actuais( especialmente os homens) estarao preparados quer para compreender quer para aceitar, eu admito q muita coisa me escapa. Gostei das referencias a mitologia egipcia, se tiveres algum livro 1 dia has de me emprestar.

Dragao
xxxxxxxx

Untold One said...

Blog interessante, concepções de base Thelemicas demasiadas, mas definitivemente um otimo blog.