Wednesday, January 31, 2007

As Visceras das Paixões




Existem pessoas neste mundo que apresentam uma sagacidade profundamente hemorrágica, atingindo e tocando na Verdade e pagando o seu preço ardendo na loucura. Curiosamente está escrito no livro Mahavakyaratnamada “o conhecedor da verdade deveria andar pelo mundo aparentemente estupido como uma criança, um louco, ou um demónio”. Essa é uma verdade, pois não vemos pela sua perspectiva alterada. Mas para mim é tão doce ver os loucos, os artistas e os génios na sua própria deambulação brilhante em convulsões de verdade terror e profundo prazer, vendo com olhos de cego mais claramente o que nós cegos nao vemos e anseio por me contaminar desse fervilhar desse transcender por fenómenos estranhamente osmóticos.

Na literatura, na música, na arte, na religião, continuam a nascer e a morrer iluminados nos nossos dias e muitos deles vão nesse mundo despojados de tudo menos da sua verdade demente e absorvente. A sua música faz-me viajar durante anos num minuto, segundo a relatividade de Einstein, as perspectivas e as cores provocam-me para explorar, a literatura vicia-me qual branca de neve intravenosa sagaz e desnudante. E os demónios deste mundo, são tão aterradores... espelham os nossos próprios demónios e esse terror primal é um estigma básico adjacente à ilusão de que podemos e devemos ser beatificamente puros, quais ovelhas no altar de sacrificio. Revelação: não somos, nem temos de ser , nem devemos ser só bons e puros e os nossos demónios podem dar-nos a mão como os nossos anjos se os conhecermos. O que é extremamente interessante é que estes fundamentos residem na Paixão. E uma senhora um dia ensinou-me, no meio de uma aula de poesia medieval, que as paixões não são sentimentos bons, ensinou-me que a paixão é um sentimento intenso, intensamente bom ou mau, por uma pessoa, um objecto ou ideal, tão visceral que leva a últimas consequências...e que portanto o ódio também pode ser uma paixão...que estranha e maravilhosa patologia.

As grandes paixões são no entanto um reflexo primitivo da necessidade de re-união inerente á busca de satisfação da experiência do uno. Existem muitos mitos que descrevem alegorias sobre o assunto. A polaridade dos dois sexos permite uma eterna insaciedade pela fusão, pela união num só ser permitindo assim o contacto com o divino que é satisfeito durante o momento do orgasmo, que se torna uma verdadeira religião, uma religio na verdadeira acepção da palavra, re-ligação ao divino, ao profundo prazer de união com o vácuo.

No entanto a polaridade que deve ser primariamente satisfeita é dentro do nosso próprio microcosmos. A polaridade dos dois sexos deve ser satisfeita pela vivência do nosso sexo oposto interior. O único parceiro do sexo oposto que nos vai permitir uma plena sensação de união divina e satisfação dessa ânsia, não é mais que o nosso eu do sexo oposto interior, pois cada um de nós tem essas duas polaridades dentro de si.

Satisfeita esta condição não nos tornamos inumanos, nem justifica um eterno celibato castrador emocional e fisico, pelo contrário, permite uma maior autonomização livre da doença da necessidade de absorção quase aglutinadora do objecto de paixão, permite uma vivência mais equilibrada da necessidade básica humana da polaridade dos sexos.Muitos há, que o realizam através da união com incubus ou sucubos, seres artificiais e demais...

No entanto apesar deste intelectualizar de algo tão sagrado, surpreendente e visceral que é a paixão, é através de doses de paixão que o nosso corpo tão bem nos droga hormonalmente, convence até nos rendermos ao corpo e ele nos absolver em pranto, desespero e êxtase.

A sua vivência é tão intensa que se viaja da morte a vida num segundo, por um gesto um movimento ou uma palavra, mergulham-se em subtilizas e doces obcessões, doenças psicológicas tão viciantes como as drogas do corpo que fazem adolescentes deseperar de lábios trémulos e húmidos à beira de um abismo que o tempo esventra e pincela num inócuo e insubstancial. Pode dizer-se que a paixão é uma doença, qual patologia que dá brilho e negrume á vida, é o que move toda uma humanidade numa viajem psicotrópica e glândular, tal é o poder da hipófise que move mundos.

Fora a vivência visceral da paixão, só a voz o poeta rouca para a transmitir e a relembrar num abalo tremeluzente, numa violação contínua das memórias e dos sentidos, lembrando sempre que neste mundo a dor e o prazer andam de mão dada e que são ambos tão fecundamente enriquecedores ao estilhacerem toda a vida e toda a morte desejada.

E agora Al Berto...


e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

...e crescerei das fecundas terras ou da morte
que sufoca o cio da boca.....
....subirei com a fala ao cimo do teu corpo ausente
trasmitir-lhe-ei o opiáceo amor das estações quentes.

Babalon

1 comment:

dragao said...

Todas as pessoas que conseguem trancender de alguma forma as correntes desta nossa realidade nao só sao genios como tb Iluminados, nao por verem alguma luz mas pq tao 1 passo + perto da Origem do que os restantes de nos.Este blog dava para fazer ai uns 10 comentarios, mas para mim o q me fica + e a Primordialidade da Paixão, algo q pessoalmente procuro sempre, mas o querer ser primordial nao implica que despreze a razão, pois sem ela sucumbiriamos perante o torbilhao de informaçao q nos chega, sempre q nos aproximamos 1 pouco + da primordialidade.

Dragao
xxxxxxxx